domingo, 30 de outubro de 2011

Vira Homem

Aprendi na faculdade um termo que se chamava "moratória social". Não me lembro bem em que matéria que foi, mas não importa. Esse termo se referia à situação moderna que se torna cada vez mais democrática, dos filhos passarem cada vez mais tempo na bolsa da mãe canguru, tendo seus estudos sustentados pelos pais, entrando na vida adulta de maneira mais tardia. Uma postura bem intencionada (ou fora de controle) dos pais, que visa proporcionar um melhor preparo dos filhos para o mundo adulto, mas cujo retardo pode gerar uma comodidade excessiva da prole e fazer com que o investimento não apenas não tenha sucesso, mas seja um completo fracasso, talvez irreversível. Se você aguentou esse texto chato até agora, vou tentar abordar o tema de maneira mais popular.

Resumindo, é difícil pra caralho virar homem. E principalmente pros homens. Populações tradicionais e silvículas possuem seus ritos tribais para marcar essa passagem do menino para o adulto. Alguns são mais brandos, outros nem tanto. Tem índio que coloca o jovenzinho pra levar picada de centenas de formigas no braço. Se não der choque anafilático, vira homem. Na nossa sociedade dita civilizada, isso pode acontecer de formas não tão definidas. Pode ser o pai que expulsa o filho de casa, o adolescente que engravida a namorada, a conquista do primeiro emprego e milhares de outras formas que podem ou não definir a transformação. Transformação essa que pode ocorrer do dia pra noite ou demorar décadas. Ou pode mesmo nunca ocorrer.

O homem não é apenas um gênero combinado com uma idade. O homem é uma postura variável cuja a sociedade julgará. Mais homem, menos homem. Uma condição. Condição essa que pode ser física. Um homem que não tenha uma estrutura física robusta, dificilmente será considerado um homem completo. E todos esses valores vem impregnando a cabeça dos pequenos desde cedo.

Outro dia alguém comentou que tem mais homem bandido porque a auto-estima do gênero é muito mal trabalhada. Mulheres são constantemente paparicadas e elogiadas. Sempre tem alguém pra passar uma cantada. Desde a infância são princesinhas. O homem não. Dos meninos é exigido sucesso profissional e financeiro, liderança na matilha, virilidade e fertilidade.

Um psiquiatra disse na televisão outro dia que as mulheres crescem mais rápido porque elas desde cedo são preparadas para a vida adulta. Brincam de casinha, de comidinha, etc. Enquanto isso, os meninos brincam de super-heróis, fantasiam... ah... e eu sempre quis ser um super-herói, sempre fantasiei que eu pudesse fazer coisas cujas limitações físicas não permitem. Ainda mais um menino com o corpo franzino, dos mais baixinhos e magrinhos da turma. Eu queria ser super. Ainda quero. Mas não se consegue obter sucesso em tudo. Financeiro, profissional, amoroso, sexual e biológico. Em algum momento, Darwin nos seleciona ou nos exclui. E se tentamos abraçar a todas as opções, todas elas acabam escapando pelos vãos entre os dedos. Então onde manter o foco? Como virar um homem completo? É possível? Quem sabe o Ney possa dar essa resposta...


sábado, 29 de outubro de 2011

Auto plágio

Vou autoplagiar o texto que escrevi pra Lomography sobre a viagem ao Jalapão, no Tocantins. Como o texto não foi originalmente escrito para o Pseudo Artes, a linguagem talvez não seja a mais adequada ao blog. Só espero que o autor do texto não me denuncie. Segue abaixo com algumas fotos:


Circuitos turísticos não tão conhecidos pelo grande público podem oferecer um grande diferencial na hora de viajar. Assim é o Jalapão, no interior do Tocantins e coração do Brasil. Localizado no meio do cerrado, próximo às fronteiras com os Estados da Bahia e do Piauí, a aridez desértica se encontra com uma riquíssima biodiversidade. Desse paradoxo, no meio de um solo arenoso nascem variedades de espécies e seus respectivos frutos, como o pequi, o buriti, o cajú ou o delicioso cajuí. A flora também é muito rica e é possível até avistar o belíssimo urubu-rei e casais da quase extinta arara azul.

As atrações são muito distantes uma das outras e o acesso é extremamente difícil, então é preciso estar munido de um veículo com tração 4×4 e um guia que não precise de GPS. Isso pode sair não muito barato.

Quilômetros de estradas tortuosas e esburacadas, ora de terra ora de areia, devem ser atravessadas para se chegar às belas cachoeiras, rios e nascentes, além de espetaculares formações rochosas, como a Pedra Furada, e as Dunas que formam um belo Oásis no meio do cerrado.

Neste lugar do interior do país, esquecido pelas autoridades, se encontra a comunidade quilombola Mumbuca. Descendentes de índios e negros, seus habitantes produzem arte com o Capim Dourado, produto legítimo da nossa terra e que já está até sendo exportado.







sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Turma do Caixote

Estava eu fazendo aulas práticas de fotografia no centro de São Paulo, em frente ao Teatro Municipal. Estávamos treinando as técnicas de Panning, que consiste em manter um objeto em movimento no foco e borrar o fundo. A técnica possui algumas variações, mas não foi isso o que chamou a atenção na noite de ontem.

Enquanto finalizávamos a lição do dia, uma senhora, moradora de rua, se aproximou, encanou comigo e disse:

- Sai daqui. Isso aqui é meu. Sai daqui.

Não respondi e ela insistiu:

- Sai daqui, falando sério. falando sério, hein? Eu vou te jogar - e mostrou o caixote de papelão que tinha em mãos.

Diante da situação, eu não poderia falar nem dizer algo diferente de:

- Então joga.

A velha me jogou a caixa de papelão. Protegi a câmera e atingiu o meu braço.


- Você não vai me filmar - disse ela.

- E você acha que eu vou querer filmar você? - respondi.

- Sai daqui, seu viado.

- Sua velha escrota.

- Do que é que você me chamou? - E pôs-se a me perseguir com a sua arma de papelão.

Depois, começamos a ir embora e a velha ficou perseguindo os membros da turma, quase acertando a cabeça de um aluno distraído. Foi aí que o professor, já cansado pela bagunça que tinha se tornado a aula, arrancou o caixote das mãos da maluca.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Miau?


Escutava eu ontem a Kiss FM 102,1 aqui em Sampa e escutei um depoimento interessante do locutor Titio Marco Antonio sobre uma declaração do Padre/Cantor Marcelo Rossi, que disse que não gostava de gatos porque gatos são traiçoeiros. Titio, que possui seis gatos, irritado com a declaração desse formador de opinião que poderia incitar mais violência e maus tratos contra bichanos, disparou a frase da semana: "Nunca vi gato pedófilo"

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Axeu


Nesta madrugada o mitológico Axl Rose se apresentou no Rock in Rio com o seu Guns 'n Roses. A figura de hoje causa uma sensação diferente daquela em que a banda estava no auge. Aquele cantor belo, magro e estiloso já não existe mais, assim como sua voz. A figura bizarra que Axl se tornou vira motivo de piada, o que poderia ser evitado se ele ainda conseguisse cantar como nos áureos tempos. E por que é que aquele que foi o ídolo de uma geração, em vez de ser ovacionado, recebe ovos? Porque sua decadência reflete a do público. O Axl feio e desafinado de hoje, espelha a população contemporânea. O Axl não é diferente de cada um de nós. A única diferença é que ele já esteve lá em cima, e hoje está quase aqui embaixo, como todos nós. Como todos nós que envelhecemos, embarangamos e fracassamos.

domingo, 2 de outubro de 2011

Coro


Aproveitando o contexto do Rock in Rio e o último dia de evento, vou falar sobre uma coisa que me irrita em shows de música: quando o artista canta e a platéia completa com algo que não está na letra, mas que o grande público se apropriou e criou como anexo. Acontece, por exemplo, com a banda Kid Abelha, que canta "fazer amor de madrugada" e o público completa "em cima da cama, debaixo da escada". Mas esse caso pra mim não é tanto problema, pois acho essa banda em questão meio chatinha, então é difícil eu assistir algum show deles ou que se toque música deles. Mas aí vem a música "É proibido fumar" do grande Erasmo e que também é tocada por uma banda que eu gosto, o Skank. Aí vem o público e completa "maconha". É de uma juvenilidade adolescente. É... acho que já estou ficando velho. A gente começa a tomar mais consciência e quando se canta "Que país é esse" a galera vem e completa "É a porra do Brasil". Porra? Então cai fora, desgraçado. Vou terminar parafraseando o Roger Moreira do Ultraje a Rigor. A terra é uma beleza. O que estraga é essa gente F.D.P.